domingo, 24 de julho de 2016

Máscaras da Humanidade

Os filósofos há muito tempo já nos falam do paradoxo do contrário, onde a juventude e a velhice coexistem no mesmo ser, mesmo corpo e mesma alma. Existe sim beleza na velhice, no “saber envelhecer”, pois existem aqueles de setenta anos que têm a mente de jovens, e no contrário, aqueles que já nascem velhos. Não como no filme “O estranho caso de Benjamin Button” em que o protagonista vai ficando mais novo com o passar do tempo, até morrer como um bebê no colo da sua amada, mas, pessoas que negam veementemente as marcas do tempo. Ao contrário de muitos filósofos, eu acredito que as marcas externas impressas na nossa face não são o verdadeiro problema, mas sim, as rugas escondidas na mente que tornam velhos aqueles que colocam suas máscaras sem cuidar do seu interior.


Os anseios narcísicos são maléficos quando, isoladamente, são buscados de uma maneira impensada e como forma de preenchimento de algum vazio, ou trauma interior. E desta maneira torna-se danoso àquele que em nome da autoestima trata apenas das máscaras superficiais.
Confrontando a cirurgia plástica e a psicanálise, eu diria que a primeira trata da máscara externa, e a segunda, das máscaras escondidas nas entranhas do inconsciente. As duas são de difícil tratamento, a cirurgia exige uma habilidade por parte do cirurgião plástico, não apenas de saber operar, mas de compreender os anseios particulares de cada paciente. E a psicanálise, pela paciência por parte do psicanalista em saber conduzir por anos uma catarse que não necessita de bisturi, onde o mal será extirpado pela palavra do analisado. E desta forma, estas máscaras podem sim, ser tratadas e cambiadas em nome da beleza, ou da juventude.
Não é pecado querer ser jovem, ou pensar-se como tal. Estamos vivendo em uma era de muitas benesses, onde a medicina oferece todo amparo para o corpo (da pele à calvície, do hormônio bioidêntico ao alimento integral, da cirurgia endoscópica ao quimioterápico). A literatura oferece toda informação possível para construção do nosso saber (da internet à livraria, da literatura de autoajuda às biografias completas, do artigo científico às redes sociais).
Hoje, a informação está literalmente no ar, só não se informa quem não quer. Só envelhece mal quem quer, pois todos sabem dos males do cigarro, do colesterol etc. Tem pessoas que ainda comem batata frita com refrigerante, que vivem de maneira sedentária e frequentam fumódromos. Em tudo há dualidade, o fazer ou não fazer o certo ou o errado. A natureza humana é dual, o corpo e a mente, o conflito e o equilíbrio. Devemos caminhar juntos em prol do “saber envelhecer”, e a fonte da juventude está no equilíbrio, no caminho do meio. Em comer bem, não comer muito, em dormir bem, acordar, ser feliz, amar, fazer cirurgias plásticas, terapias, brincar com as máscaras do tempo como no teatro, sabendo que sempre existirão as duas – a da comédia e da tragédia.

Isaac Furtado

Nenhum comentário:

Postar um comentário