quinta-feira, 14 de julho de 2016

Às três horas da manhã.



Nunca me acostumo com a morte. Vai dizer que foi cedo, ou que foi pouca a sorte? Nunca consigo dizer se foi boa, a morte. Doravante, no meu peito insone se forma um aperto e um pingo distante se faz a cada minuto mais audível. Navego no intuito de entender esse mistério escuro e indecifrável.  
Às três horas da manhã, o tempo congela, o pingo engasga, mas continua a cair compassadamente ...com-pas-sa-da-men-te.
O pensamento me esmaga, o ar já se foi, restou apenas uma força de ficar mais um pouco. Receber um carinho, um afago, um cheiro.
A noite quente parece me devorar. Não ouço mais o pingo. Minha vista embaça,  pede descanso. Mas, sou um vigia de sonhos, aquele que pinta no escuro salpicos que se dizem estrelas. Aquele que busca na ingênua poesia uma exclamação. Aquele que brinda com vinho, brinca com sangue e se acha um Pigmaleão.
Continuo a escutar o seu ronronar, como um mantra a me absorver. E sem querer me despedir do seu lindo olhar, me pergunto, porque chorar?
Se tudo um dia se acabará. Se o verde das folhas, o outono irá devorar. Se as brancas dunas ciganas, o vento irá soprar. Até o dia que não nasce, vingará! Então, porque seguir? Se o ficar é mais fácil. Se o suspirar é mais doce do que o grito. Se o calar consente e a palavra fere.
Espere, então entre o ir e o ficar, conheço apenas uma palavra que transita por mundos e atende por AMOR.
Aquela que arde na noite quente,
que perde o ar e o sentido.
Aquela que tudo transcende,
que diz não à razão.
Aquela que atravessa o dia para se entregar à escuridão, que foge de todas as explicações possíveis.
Aquela que cala, grita e consente,
que faz o tempo parar e nos torna invencíveis.
Aquela que se explica, simplesmente
por existir. Pois, se não houvesse o amor, para que então viver por aqui?
Amamos sim, e por maior que seja esse amor, um dia alguém irá sofrer, volvendo como um ciclo de vida e morte, de dor e prazer as três horas da manhã.

Ah! E se alguém disser que essa é a hora do cão, esse aí nunca amou ou sofreu de paixão.

Obs: esse texto poético foi feito em homenagem nossa gatinha Maria Alice que nos deixou.

Isaac Furtado

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