terça-feira, 19 de julho de 2016

A IMORTAL E OS LEÕES



Me aventurei adentrar pela praça iluminada.
Senti um vazio, nela ninguém transitava.
Perdera sua alma, seu motivo de ali estar.

Não havia mais risos, nem velhos amigos.
Tão pouco namorados a cochichar segredos.
As crianças que ali brincavam já se foram.
Ficaram apenas alguns gatos a vadiar.

O coreto no centro da praça acolhia o silêncio.
Outrora, testemunho de versos declamados.
Onde hinos e marchinhas animavam esperanças.

Um vento soprou de repente, revirando velhos jornais
e avivando cheiros nada agradáveis de respirar.
Caminhei mais um pouco naquela solidão.
Ouvindo uma música de alguma festa distante.

Vi a lua surgindo portentosa, querendo animar.
Mas, indecisa escondeu-se atrás do velho Ficus,
e já cansada de seguir sozinha pela noite, dormiu.

Vi dois bancos ocupados e sinistros vultos a vagar.
Muitas luzes cintilavam naquele palco vazio.
Ao longe, os vitrais da catedral coloriam.
Mas, tudo era nostalgia naquele lugar.

Vi a querida Rachel no seu banco pedestal.  
A imortal descansava sob o seu manto de bronze.
Vi que novamente levaram-lhe os óculos. Até sorri.

Já saindo, vi que os bravos leões não rugiam mais.
Eles hibernavam como num transe atemporal.
Vi então, que toda praça estava dormente,  
Esperando por mim, por você, pela gente.

Isaac Furtado

Obs.: Poesia feita após um breve passeio pela Praça dos Leões.

6 comentários:

  1. Linda poesia Isaac! Através de suas palavras até visualizei a praça abandonada e suja! Prova do descaso de nossos governantes com nossa cidade tão cheia de história! Você é um artista cada dia mais completo! Parabéns!

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  2. Lindo e nostálgico poema.
    Viagem a um tempo perdido.
    Parabéns!

    ana margarida

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