quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O artista e o cirurgião



Acredito que todos tenham o seu talento pessoal, ou algo próprio a transmitir. O meu, desde cedo, já descobri nas artes visuais. Gosto muito de dizer: sou artista e estou cirurgião plástico. Pois quando decidi fazer medicina, já sabia que o meu lugar era na cirurgia plástica. Na escola do Prof. Ivo Pitanguy encontrei a minha maior inspiração, com aquele que não ensinava apenas técnicas, mas transmitia a sua filosofia. Lá passei três anos como residente e também realizando os desenhos de técnicas e cirurgias que o professor me solicitava. Aquarelas que fazia com muito gosto, que também me ensinavam a compreender melhor as cirurgias. Para fazer esse serviço, tinha uma bolsa da PUC que muito me ajudou. Hoje, em Fortaleza, sigo o meu caminho me dedicando a cirurgia e sempre que possível às artes. Nossa especialidade demanda muita atenção, mas não abandono meu lado artista, pois, acima de tudo, os dois são trabalhos perfeccionistas.

O homem deve parar e repensar o seu cotidiano, para não entrar na rotina esquecendo o objetivo da vida. Sempre na busca da realização pessoal e da felicidade. Todos devem procurar o seu dom, na música, na dança, na poesia, nas artes plásticas, no teatro ou na oratória. Afinal são nove as musas inspiradoras da mitologia grega, você deve se afeiçoar a uma delas. E desenvolver uma atividade paralela que irá lhe enobrecer. Nós médicos, nos tornamos muito técnicos e pouco humanos. As artes nos sensibilizam para os pequenos detalhes e as coisas simples da vida. Pretendo seguir na minha estrada, revezando entre o pincel e o bisturi. Pois, nos dois existe a criação, em aquarelas ou Mamoplastias; em telas à óleo ou Rinoplastias.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016


SUSPIROS 

A perfeição não existe, somente suspiros.
Como o véu da cortina a balançar com a brisa.
O velho torso repousando sobre a mesa.
A nudez cálida da modelo mostrando-se
pouco a pouco, sem igual.

O mármore de tez pálida, querendo
mais e mais ser imortal.
A argila ainda úmida,
revelando traços do artista,
sua cativa e única digital.

O molde de gesso já trincado,
imperfeito e frágil como nós.
Os que não apenas respiram,
mas anseiam por mais,e por fim, 
realizados suspiram.


Foto do filme O artista e a modelo, 2013.
Poesia: Isaac Furtado