terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Forma e função

Todas as coisas existentes têm sua forma e sua função. Aristóteles já nos falava das quatro causas pelas quais as coisas eram feitas: formal, funcional, eficiente e final. Muitas adquiriram sua função após milhões de anos de evolução, como as penas das aves que inicialmente eram os pelos modificados de dinossauros. Estes animais foram diminuindo seu tamanho e sua plumagem foi crescendo, até poderem planar e finalmente voar (sua nova função). Como o Apêndice Vermiforme do nosso intestino, que inicialmente ajudava na digestão, e hoje não passa de um órgão vestigial, podendo ser retirado sem levar a nenhum dano ao nosso corpo (sem nenhuma função). Charles Darwin já nos falava da evolução natural das espécies há cento e cinquenta anos. Hoje, ele ficaria perplexo com o que sabemos sobre o DNA, as descobertas genéticas ou arqueológicas. A pouco menos de quarenta mil anos existiram, em torno de, quatro espécies diferentes de “seres humanos”: o Homo neanderthalensis (entroncado, ruivo, com nariz e testa largos, adaptado ao frio, que foi extinto há vinte mil anos ao sul da Península Ibérica); o Homo floresiensis (com apenas um metro de altura – como os “Hobbits” mitológicos, extinto na pequena ilha de Flores na Indonésia, há treze mil anos); o recém descoberto Homo denisovanos (ramo que migrou para Sibéria e sudeste asiático, semelhante ao Neandertal, e foi extinto há trinta mil anos); e por último o Homo sapiens. Nós prevalecemos, e aqui estamos escrevendo textos em “Tablets” de “touch screen” e os enviando por emails. Nossa inteligência e atual aparência são frutos de uma evolução que envolveu mutações genéticas após milhares de gerações. Migrações por terras quentes e frias, que alteraram a cor da nossa pele, do nosso cabelo e dos nossos olhos. Povoamos praticamente todos os espaços de terra do planeta. Em cada canto temos nossa cultura, nossas crenças e contrastes. As formas mudaram muito, de acordo com cada raça, modificando o formato dos olhos (orientais, caucasianos), das mamas (grandes, pequenas, flácidas), ou da nossa altura (dos Pigmeus aos Holandeses). No entanto, a única coisa que une todos nós é a vontade de ser belo, cada qual a sua maneira, cada um buscando sua forma ideal. A pouco mais de cinquenta anos, adquirimos efetivamente a capacidade de modificar o nosso corpo com sucesso e alterar a nossa forma. Inicialmente, as cirurgias tinham o objetivo apenas de salvar a vida. As guerras, com suas armas cada vez mais destrutivas, indiretamente contribuíram com técnicas cirúrgicas melhores para amputação de membros. Mais recentemente, conseguimos não apenas salvar os membros, mas recuperar seus movimentos (sua função). A cirurgia plástica estética surgiu da reparadora e tornou-se uma maravilha da medicina atual. Hoje, o Brasil é um expoente da cirurgia plástica no mundo, são feitas duas mil cirurgias por dia, com um total de setecentos mil procedimentos cirúrgicos por ano, onde mais de setenta por cento são estéticas. Mas, onde termina a estética e começa a reparação? O conceito atual é de unificação, pois nenhuma cirurgia reparadora pode ser feita sem visar uma boa estética na cicatriz, e nenhuma cirurgia estética pode ser feita sem preservar a função daquele órgão. Atuando assim na função e na forma, mas devendo ser realizada com prudência, e acima de tudo com ética. Pois, todo exagero é danoso e a virtude está no equilíbrio (In stat medio virtus).

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