segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Os limites da beleza

Desde o antigo Egito o homem se preocupa com a sua beleza, procura produtos e tratamentos para ter uma melhor aparência. Moedas da época mostraram que Cleópatra não era uma mulher muito bela, tinha o nariz grande e o queixo proeminente, mas ela tinha suas armas: a inteligência, o domínio de várias línguas, muita maquiagem, cremes e tomava seus banhos de leite. De lá para cá muitos tratamentos de beleza foram empregados. Mas, até metade do século XX, eles não passavam de tratamentos cosméticos. Com o advento da cirurgia plástica estética, tudo mudou. No nariz, um cirurgião chamado Joseph, fazia suas rinoplastias externas. Na mama, muitas técnicas foram desenvolvidas, em 1961 Pitanguy desenvolveu sua técnica, que nas décadas seguintes passou a ser uma das mais realizadas no mundo. Em praticamente todas as áreas do corpo havia uma técnica para transformar, buscar a perfeição, interferir na criação. Nunca o poema de Camões foi tão atual: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser...” Hoje, nós temos os dois lados da moeda, e Cleópatra com certeza teria outra aparência, sendo servida pelos melhores dermatologistas e cirurgiões plásticos do planeta. É neste ponto que eu quero questionar: as fronteiras da beleza, onde as intervenções têm um limite. Algumas vezes, o lado comercial extrapola, as cirurgias e os preenchimentos faciais ultrapassam o que seria natural. A ética e a noção de beleza que os profissionais ligados a estética devem ter é que irão determinar a fronteira do fazer ou não aquele procedimento. O tamanho das próteses de mama, de glúteos, a quantidade de lipoaspiração, a tração feita na face para não esticar demais, todos são procedimentos maravilhosos, mas que têm seus limites. Devemos ter muito cuidado para não transformar o normal no grotesco. Eu prezo muito pela cirurgia minimalista, aquela que não fere a identidade, e fica despercebida. Ainda lutamos para eliminar ou ter uma cicatriz melhor, somos moldados pela anatomia e nunca podemos nos esquecer da fisiologia, preservando sempre a função. Eu gosto de dizer: “a cirurgia plástica não trata da pele, trata da alma.” Para tratar da pele necessitamos desde jovem ter vários cuidados, com a alimentação, a proteção do sol, os cremes, os lasers, ácidos etc. A beleza é sempre encontrada no equilíbrio, a auto-estima recuperada por uma cirurgia plástica bem feita, trata da alma pelo encontro com a alegria, como eu digo: “fazendo as pazes com o espelho”. Nós, cirurgiões plásticos temos esta nobre missão de expandir as fronteiras da beleza, restaurando a felicidade às vezes perdida com o tempo, com os traumas e percalços da vida que levam à obesidade, aos problemas psíquicos. Mas, nem sempre todos são tratados com uma cirurgia plástica. A fagulha da vaidade nunca deve ser apagada, a chama da beleza deve ser alimentada não apenas por fora, mas também por dentro, com o autoconhecimento, a espiritualidade, a vontade de ser cada vez melhor para si e para os outros, transformando a beleza em atos. Em um mundo que necessita ser belo não apenas no “ser”, mas em uma fronteira muito mais distante, no mundo da atitude, do “bem fazer”.

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